Nevava lá fora.
Tudo o que eu queria era fugir de casa, para não ter mais que presenciar tais brigas banais que minha família insiste em ter.
Trancada no quarto, botei meu sobretudo e um gorro para me proteger do frio. Resolvi sair pela janela, e deixar quem quer que estivesse batendo em minha porta desistir de me atazanar.
E assim fiz. Pulei a janela e segui caminho até... bom, lugar nenhum. A paisagem era tão diferente quando coberta de neve, que quase me perdi nos primeiros quarteirões por onde andei.
Passos largos, suspiros profundos, angústia me dominando...
Ah, como eu amo os domingos!
No natal, só encontramos dois tipos de estabelecimentos abertos: a lanchonete do Tony, e um bar de esquina qualquer.
Em qualquer outro dia, fugiria para a lanchonete sem sequer pensar. Mas não naquele dia.
Com duas garrafas de wisky vagabundo embaixo do braço, e um maço de cigarro no bolso, não pensei duas vezes antes de tomar outro caminho senão o oposto ao de casa. Deitei no que pensava ser um banco, e como uma criança entediada, comecei a contar os flocos de neve que caiam.
Eu estava com frio, o que decerto foi o motivo de eu ter acordado tão assustada. Além disso, havia alguém me observando do outro lado da rua. O fitei, e o que me assustou ainda mais, é que o sujeito sequer disfarçou, continuou me encarando com um sorriso malicioso.
Minha boca fedia a álcool e meu cabelo a tabaco, então estaria bem encrencada se fosse pega naquele estado.
A lanchonete do Tony não era muito longe dali, e foi o lugar que encontrei para me proteger do frio.
Sentada diante de panquecas com bacon, e o mesmo wisky vagabundo, fitando o nada, pude sentir aquela sensação estranha novamente. Alguém estava me observando... Aquele mesmo garoto, com o mesmo sorriso.
Estava de fato assustada, mas não o suficiente para fugir dali ou gritar por ajuda. Se ele tentasse algo a mais, sentiria uma das facas mal amoladas de Tony atravessar seu estomago.
Ele se sentou na minha frente, e um silêncio perturbador tomou conta por alguns segundos.
-Haylee?
-Como sabe meu nome? -disse eu com temor-.
-Se me lembro bem, nunca teve mesmo uma ótima memória -respondeu-me num tom de deboche- sou eu, bobinha, o Austin... não se lembra de mim?
~flashback on~
Minha festa de 10 anos, foi um fracasso. Quase ninguém foi, e minha mãe insistiu em chamar as amigas dela, especialmente uma.
Não que não goste de Michele, mas o filho dela...
Ahhhh que garotinho mais mal educado! Pega minhas bonecas e tira sarro das minhas roupas. Puxa meu cabelo e inventa mentiras sobre mim para nossas mães.
Como no dia em que ele chegou em mamãe chorando, e disse que eu havia puxado seu cabelo. Que mentira deslavada! Eu apenas enrosquei, totalmente sem querer, o cabelo dele em meus dedos... Foi um acidente, e acidentes acontecem!!!
Tirando o belo castigo que levei depois, o dia não foi de todo ruim.
Um amigo de Austin, o filho chato de Michele, sugeriu que brincássemos de Verdade ou Consequência. Eu era tão inocente, ainda tinha nojo de beijo na boca, achei que fosse uma brincadeira legal... e eu não tava errada.
Escovei meus dentes e lavei a boca um milhão de vezes, depois que ao escolher consequência tive de beijar aquele nojentinho.
Não foi tão ruim... mas eu o odiava.
Eu tinha que odiar!
~flashback off~
-Austin? Bom... acho que não conheço ninguém que tenha esse nome -disse cortando o papo-.
-Então você é daquela que se aproveita de um garoto, e depois o esnoba? -Ele disse divertido-.
-Não me aproveitei de você, seu imbecil! Foi uma brincadeira, eu não queria te beijar!
-Então você lembra... espertinha.
-Lembro. Agora, se me der licença, estou com uma baita fome... Até logo! -disse o mandando embora-.
-Austin? Bom... acho que não conheço ninguém que tenha esse nome -disse cortando o papo-.
-Então você é daquela que se aproveita de um garoto, e depois o esnoba? -Ele disse divertido-.
-Não me aproveitei de você, seu imbecil! Foi uma brincadeira, eu não queria te beijar!
-Então você lembra... espertinha.
-Lembro. Agora, se me der licença, estou com uma baita fome... Até logo! -disse o mandando embora-.
-Coma a vontade, não me incomoda não.
-Some daqui!
-Não! Você não manda em mim! -ele riu-.
-Você continua o mesmo maníaco infantil de sempre.
-E você continua a mesma chata de sempre. Só que agora com peitos.
-Seu cretino! -Eu disse rindo-.
-Ei, o que está bebendo?
-Whisky, quer um pouco?
-Não, obrigado. Isso está mais pra gasolina suja.
-Cala a boca.
Já estava no terceiro prato. Meu estomago embrulhava à cada garfada de panqueca, mas minha fome era maior. O garoto me fitava atentamente, cada movimento que fazia seus olhos me acompanhavam. Se não soubesse o quão bunda-mole ele é, até teria um pouco de medo.
Não havia ninguém além de nós dois e dois atendentes entediados. Por causa da nevasca, o sinal dos celulares estavam péssimos. Além disso, não tinha WIFI de graça, muito menos uma tevê à cabo que funcionasse com esse gelo todo.
A neve caía cada vez mais, me fazendo questionar se era hora de voltar para casa. Estava prestes a fazer, quando ouvimos um barulho forte vindo de lá de fora. Provavelmente era um daqueles caminhões que retiram a neve das estradas.
Eu estava certa. E agora presa.
Já que toda a neve retirada da rua agora escorava a porta da lanchonete. Então ninguém poderia sair dali. Droga!
-Droga! -Choraminguei- Vou pedir alguns donuts.
-você vai sair daqui com 100kg a mais! -Debochou-.
-Não lembro de ter te perguntado alguma coisa.
-Desculpa aí, Orca. -Revirei os olhos- Traz um pra mim também.
[...]
Horas já haviam se passado, e eu estava satisfeita. Minha cabeça estourava, e todos dormiam no chão, enrolados em alguns cobertores que Tony deixa para emergências como esta.
-Posso deitar em você?
-Pode -disse ele desconfiado-.
-Não faz essa cara, eu só quero dormir um pouco, e sua jaqueta me parece bem confortável.
-É só brincadeira, pode dormir tranquila.
[...]
Quando acordei, senti uma fraqueza indescritível. Era a maldita ressaca, e eu não estava acostumada com essas bebidas. Também senti alguém acariciando meu cabelo, e um braço envolto ao meu corpo. Eu estranhei de fato quando vi quem era, mas estava tão bom que não reclamei de nada.
-Bom dia, preguiça.
-Bom dia? Quanto tempo eu dormi?
-Algumas horas. Já até amanheceu. Estão limpando as ruas agora, logo poderemos sair daqui.
-Eu não quero voltar pra casa! -Eu disse-.
-Por que?
-Só não quero. Prefiro passar o resto do dia aqui, presa com você, do que com aquela gente que chamo de família.
-Nossa! Pra você preferir isso, eles devem ter feito algo horrível! -brincou-.
-É... Até que você não é tão chato como antes. Foi bom te rever.
-Eu digo o mesmo. -sorriu- Se você preferir, pode ir pra minha casa, não é tão longe daqui e minha mãe adora você.
-É, pode ser.
Depois de um bom tempo conversando, a porta finalmente estava livre e podíamos ir embora. Paguei a conta -que por sinal não estava tão barata-, e puxando Austin pela jaqueta, saí dali.
-Para onde vamos? -Ele perguntou-.
-Pra qualquer lugar.
-Vamos dar uma volta, depois vamos pra minha casa, tudo bem?
-Tá, por mim pode ser.
Em silêncio, andamos por algum tempo, por ruas aleatórias. Paramos naquele mesmo banco, onde havia o encontrado no dia anterior, e sentamos para descansar um pouco.
-Uma pena termos perdido contato, sabia? -Ele começou falando-.
-Por que?
-Porque eu gosto de você, sempre fui com a sua cara.
-Jura? Eu não! -eu ri- mas eu gosto de você também, já que como eu disse, você não é tão chato como antes. -disse brincando-.
-Haylee?
-Sim.
-O que você faria, se eu te beijasse, agora? -Disse segurando meu rosto-.
-Morderia sua língua! -Ri-.
-Sério?
-Não... Eu retribuiria a gentileza. -disse sorrindo-.
Por fim, nos beijamos. Um beijo calmo e quente, demorado e sintonizado. Com direito à borboletas no estômago, caricias no rosto e puxão de cabelo.
Seguimos sem rumo até algum lugar...
-Tudo o que eu queria nesse natal, era amor... E me trouxeram você de presente...
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Olha eu aqui!!! hahaha
Escrevi esse imagine como um ''presentinho'' de natal, na verdade, é mais como um agradecimento para todos vocês que acompanharam o blog.
Me contem como vão as coisas... Se vocês foram no show ou não?
Tenho algumas surpresas para 2015, aconselho me adicionarem em suas redes sociais para não só ficarem ligados, como para falarem comigo hahaha
Senti falta disso aqui...
E ainda, tenho que agradecer pelas visualizações, que mesmo sem postar nada, chegaram à 74.110 *-*
Bom, sem mais delongas...
DESEJO À TODOS VOCÊS UM SUPER NATAL!
E UM FELIZ ANO NOVO que ps: é também meu aniversário ^.^
xoxoxo <3